Resenha do livro: Para educar crianças feministas um manifesto

Chamamanda Nogzi Adichie

Companhia das Letras, 2017.

 

Por Thaís Calderone

 

O livro Para educar crianças feministas de Chimamanda Ngozi Adichie, publicado em 2017 pela editora Companhia das Letras traz reflexões da autora sobre como pensar o feminismo a partir do nosso próprio contexto, a fim de ressignificá-lo para as próximas gerações.

Adichie é nigeriana, natural de Enugu. Nasceu em 15 de setembro de 1977 e mudou-se para os Estados Unidos aos 16 anos. Estudou nas universidades de Drexel University e Eastern Connecticut State University, formada em Comunicação e Ciência Política. A autora é hoje uma das maiores acadêmicas nigerianas. Suas principais obras são: Hibisco roxo (2003), Meio sol amarelo (2006), A coisa à volta do teu pescoço (2009)Americanah (2013)Sejamos todos feministas (2014) e Para educar crianças feministas (2017).

A obra Para educar crianças feministas um manifesto, foi inspirada em uma carta que Chimamanda respondeu a um pedido de sua amiga Ijeawele e é separada em sugestões. Na primeira, a autora reflete a importância da mulher continuar suas atividades fora de casa e do seu autocuidado, para atender suas necessidades pessoais e não se resumir apenas à maternidade. Assim como, não se culpar nem ter medo de falhar, que é humano e saudável pedir ajuda. Que a maternidade é sobre prática e amor.

A segunda sugestão, é sobre dividir as tarefas na criação dos filhos e o quanto os cuidados estão intimamente ligados no cultivo das relações que conectam pais e filhos. De acordo com a escritora, dividir tarefas não é ajuda, nem motivo para enaltecer o outro e sim, uma consciência de responsabilidade pela escolha de ter filhos.

“Papéis de gênero” não existem, diz Ngozi em sua terceira sugestão. Para ela, a sociedade começa desde cedo ensinar as crianças essa dualidade e que os pais deveriam começar a seguir o caminho contrário, a fim de que  seus filhos possam se desenvolver com autonomia e explorar seu potencial como indivíduos apontando sempre para melhorar a si mesmos.

Na quarta sugestão, a autora revela o perigo do “feminismo leve”, como ela chama formas conciliatórias que não rompem com a ideia de pápeis de gênero. Ao contrário, o feminismo leve silencia a troco de uma aparente permissividade e igualdade.

Chimamanda aponta a leitura, uma forma emancipatória de criarmos seres humanos questionadores e críticos sobre a sociedade que vive, como quinta sugestão.

A autora utiliza a sexta, para questionar a forma como utilizamos a nossa linguagem. A avaliação da nossa narrativa é um bom começo para ensinarmos nossas crianças a questionar os discursos. Utilizar recursos de exemplificações ajuda a contextualizar e relacionar teoria com a prática também.

Na sétima, Chimamanda fala sobre romantizar o matrimônio como forma de recompensa por ser uma “boa mulher”, um reconhecimento social de existência dada a partir da comunhão com um homem. Isso é prejudicial para criar uma relação equilibrada, pois onde há somente um lado que se dedica, se preocupa e tem mais responsabilidades sobre o casamento, esse lado costuma sofrer com sobrecarga e é dezumanizado.

Chimamanda segue uma linha de construção narrativa objetiva e de fácil compreensão. Sua introdução ao tema vai ao encontro com o conceito de Djamila Ribeiro sobre lugar de fala, em que é preciso compreender e se conscientizar do lugar ao qual se fala sobre feminismo e que juntamente com ele estão outras estruturas sociais que colaboram com sua reprodução e manutenção. Criar filhos fortes, responsáveis e comprometidos com uma transformação social está para além de defender apenas uma pauta. É necessário ressignificar os próprios conceitos e as contradições existentes em nossas próprias ações. Sugiro a leitura, como reflexão para educar crianças potencialmente autônomas e engajadas na emancipação da humanidade.

 

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