Tribunal da Crise Ambiental

Afinal de contas, estamos vivendo ou não o Antropoceno?

Houve cinco grandes extinções em massa de espécies ao longo dos bilhões de anos de existência do Planeta Terra. Todas são comprovadas geologicamente através da análise de fósseis. Essas grandes extinções foram causadas por fenômenos naturais e hoje cientistas discutem a possibilidade de estarmos a caminho de uma sexta grande extinção em massa de espécies.

O problema central discutido entre estudiosos é o agente causador dessa próxima destruição, o ser humano. É a primeira vez que isso acontece, que uma espécie da natureza é o principal agente transformador da natureza, ou seja, em bilhões de anos uma única espécie extermina de forma consciente muitas outras espécies. Não somente isso, também altera todo sistema do ciclo natural do Planeta.

Essa nova era pela qual alguns geólogos e antropólogos discutem estarmos é chamada de antropoceno. Era geológica onde o homem é quem define os rumos da Terra. Uma interpretação de que o homem é responsável pelos danos ao Planeta.

Entretanto, não há um consenso entre cientistas sobre estarmos de fato vivendo o antropoceno, pois a ciência é aberta e feita para ser superada. Uma parcela da comunidade científica questiona e defende, por exemplo, que as mudanças climáticas, como o aumento da temperatura da Terra ocorre por causas naturais. Outro ponto que dificulta o reconhecimento dessa era geológica é o período de desinformação que estamos vivendo. Sobretudo, até quem desacredita que o ser humano está acabando com o Planeta reconhece que mudanças tem ocorrido de fato com frequência maior de desastres naturais.

A espécie humana surgiu mais ou menos a 350 milhares anos. Sua história de existência e evolução é marcada pela habilidade de transformar o meio e há indícios físicos que já o modificamos geologicamente. Essas interferências e modificações se deram em grande parte desse tempo de forma gradual. Em meados do século XX, a Revolução industrial trouxe uma nova concepção de produção e reprodução da vida humana. O surgimento das máquinas, a extração dos recursos naturais em larga escala, consumo e descarte excessivo, construção de grandes cidades, inchaço populacional sem organização e de forma insustentável e acumulação de riquezas tem intensificado e acelerado o processo de apropriação e modificação do meio ambiente. Fora o afastamento da percepção de pertencimento da natureza para possuidor dela.

Dentre os principais impactos ambientais negativos causados pela nossa espécie está a diminuição dos mananciais, extinção de espécies, inundações, erosões, poluição, mudanças climáticas e destruição de “habitats”. Sendo que a natureza demora centenas de milhões de anos para se regenerar.

Somos hoje quase 7 bilhões de pessoas consu­mindo alimentos, combustíveis fósseis e água potá­vel; produzindo lixo, poluindo e predando; compe­tindo por recursos e por espaço com os outros seres vivos; introduzindo espécies exóticas e alterando hábitats, ecossistemas e biomas inteiros, de uma forma que pouco poderá ser suavizada até 2050, quando provavelmente atingiremos a marca de 10 bilhões de seres humanos. (MARTINI; RIBEIRO; 2011)

Isso ameaça também a nossa própria espécie, pois, em resposta as nossas ações presenciamos grandes desastres ambientais, pandemias, doenças, fome, seca, desigualdades sem tamanho que afetam diretamente as classes sociais mais baixas. Aqui, entramos em uma contradição, porque, para além de individualmente o ser humano se conscientizar sobre suas ações minimizando os impactos ao meio ele precisa se organizar coletivamente para combater o modelo de sociedade que vive.

No livro Ideias para adiar o fim do mundo, o líder indígena Ailton Krenak traz uma reflexão acerca desse momento que estamos vivendo.

A conclusão ou compreensão de que estamos vivendo uma era que pode ser identificada como Antropoceno deveria soar como um alarme nas nossas cabeças. Porque, se nós imprimimos  no Planeta Terra uma marca tão pesada que caracteriza uma era, que pode permanecer mesmo depois de já não estarmos aqui, pois estamos exaurindo as fontes de vidas que nos possibilitam prosperar e sentir que estávamos em casa, sentir até, em alguns períodos, que tínhamos uma casa comum que podia ser cuidada por todos, é por estarmos mais uma vez diante do dilema a que já aludi: excluímos da vida, localmente, as formas de organização que não estão integradas ao mundo da mercadoria, pondo em risco todas as outras formas de viver [...] (KRENAK, 2019, p. 26)

Portanto, pode ser que realmente à terra passe por uma renovação e um processo natural, mas o que presenciamos é de fato que a junção de todas as ações somadas, mesmo que em suas localidades refletem em um conjunto de degradação do meio ambiente e a aceleração da extinção de inúmeras espécies tanto quanto a nossa.

Referências Bibliográficas

1. MARTINI, B.; RIBEIRO C.; ANTROPOCENO A época da humanidade? 283. Ed. 2011. Ciênciahoje. Disponível em: http://cienciahoje.org.br/product/chc-283-paes-de-acucar-doces-ou-ilhas-terrestres/

2. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.


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