Trap - Mandando a real

No Ateliê Arte e Memória, fomos provocados pelos professores Fábio Nieto e Martin Domecq a trabalhar no resgate de memórias dos momentos das nossas vidas. Lembrar seja para esquecer ou para manter a lembrança viva é um exercício que fazemos sem perceber. Descobrimos que, as memórias estão intimamente ligadas aos sentidos, todas nos trazem cheiros, sabores e cores que nos remetem a boas ou más recordações.

Foi através da oralidade, história contada por minha mãe em uma de suas relembranças (se assim posso chamar) que a conheci Cláudia Maria, jovem, mulher, sonhadora, mãe, trabalhadora e esposa. Ria sempre ao contar este causo que lhe aconteceu aos 32 anos de idade, grávida de seu quarto filho enquanto se desdobrava em sua jornada tripla - cuidando do comércio, fervendo roupas e cuidando da filha do meio - acabou esquecendo a cueca do esposo no fogão e queimando-a, sua filha Débora, sapeca como era e a única que estava na casa enquanto a mãe trabalhava, arranjou um jeito inusitado de mostrar a sua mãe o que havia ocorrido. Ela escreveu uma placa escrito “Mãe a cueca do pai queimou”.  Cláudia, ocupadíssima não pode dar atenção no momento, não satisfeita a garotinha coloca a cueca queimada em um cabo de vassoura e, ao invés de chamar atenção de sua mãe, mostra a cliente que estava sendo atendida.

Através dessa memória, além do hábito de reviver uma história através da oralidade resgatamos o hábito de cozinhar as roupas para cuidar da saúde íntima que minha mãe aprendeu com sua mãe, que aprendeu com a mãe dela... e algumas reflexões sobre a condição de mulher enfrentada por elas. O resultado desse processo foi a composição de um trap de minha autoria intitulado Mandando a Real.



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